
Saudades e Algumas Fases
Por Ana Carolina Macedo
Alguns anos atrás, precisamente 16 anos, ouvi dizer: “Deus sabe o que faz.” Nunca duvidei, hoje mais do que nunca, mas, naquele dia confesso que questionei comigo mesma: “Será que sabe das consequências também?”.
E ouvi muito também, que a saudade tinha muitas fases, e que na última eu saberia que saudade era o amor que ficava e quando essa fase chegasse, o coração acalmaria.
Naquela época não fazia sentido, a dor era imensa e a fase era de muita tristeza, revolta e medo. Sim! Medo do futuro com tanta ausência.
A fase da revolta e impotência para mudar a história, essa foi a primeira, ah essa dói! Dói pela ausência do aconchego! Dói em saber que, por mais que eu quisesse não tinha como mudar a situação. Dói também pelas complicações burocráticas originadas pela partida.
Essa é a fase em que você vive com um nó! Um nó na garganta, outro no coração e mais alguns na vida. Um nó cego! Daqueles que não conseguimos saber onde começa e onde termina. É aquele nó que dá raiva e vontade de “passar a tesoura”! Que não ata e nem desata e que só embola.
Um nó que aperta o coração, que não ata no sentido da vida e não desata da dor. Só embola! Embola o coração, a emoção e a razão. Essa é a hora em que você quer acelerar o tempo para sair da dor, da tempestade e do caos.
Mudar o capítulo da história para saber se o personagem principal conseguirá sair dessa fase, que irá realmente mudar para melhor. É como uma piscina funda quando não se sabe nadar. Quanto mais eu batia o pé no chão para impulsionar até a borda, mais água eu bebia e, a piscina parecia que só enchia de saudade e problema.
Desapegar da certeza do passado e se ater na incerteza do futuro precisa de muita fé, persistência, paciência, amor e acima de tudo gratidão. Isso não faltou! Sempre me acompanhou, tá certo que por um instante eu questionei, mas Ele me respondeu todas as vezes, no tempo certo.
A certeza disso e o elo de tudo isso, foi quando numa das primeiras noites o Gui disse: “não chora mamãe olha eu aqui!”. Esse era o sentido da vida! Manter a vida graças ao Amor que ficou e a própria Vida!
Desde então, a saudade, confesso que ainda doeu por muito e muito tempo.
A mente do ser humano é curiosa, para sensações então nem se fala! Tem a fase da saudade com cheiro e achei que fosse enlouquecer! Existem detalhes do cotidiano que parecem não fazer muito sentido, coisas bobas e “automáticas”, mas nessa fase da saudade com cheiro, você começa a ter nítida certeza do cheiro, por milésimos de segundos você viaja no tempo! Você não sabe se sentiu (quando foi) ou se enlouqueceu (quando voltou).
É nessa fase da saudade que tive que me readaptar, desaprender para aprender. Aprender de forma diferente. O vivido tinha que fortalecer para o que viria. Não pelo peso e acúmulo, mas sim pela continuação da vida, da alegria, do amor, da fé e da gratidão pela oportunidade em continuar a vida, a certeza do sentido da vida.
A fase de acomodação da saudade, aquela fase que diziam que era a do amor que ficava, ela chegou! Tem seus os altos e baixos, mas é certo: ficou! Na memória, mas ficou!
Sou imensamente grata a meus pais e familiares, a todos amigos que direta ou indiretamente estiveram ao meu lado, sem vocês a jornada teria sido muito mais complicada.
Poderia descrever muitas outras fases da saudade, daquelas que dão nó de tristeza e embola o coração e a razão, mas prefiro cortar o nó e dar um lindo laço na caixinha da saudade cheia de boas lembranças.